quarta-feira, 17 de novembro de 2010

De tudo, uma foto

Geral fotográfica

Música no bar, agressão no rosto, conversa construtiva, stress, prazer em visitar, espetáculo, desenhos, ligações, correria. Entre fotógrafo e motorista, vou tendo experiências que ficarão para vida toda. Somos três na revista, e eu, responsável pela fotografia, tenho o maior contato com a produção das pautas, ora com Luana Sena, ora com Diego Noleto, fora um mochilão nas costas com mais de cinco kilos de equipamentos, que sempre me acompanha, entre filmes, flashs e câmeras. Na mente, sempre a ideia da foto tem que vir antes que o dia do ensaio, ou pauta. Na produção, imagino tudo, a cena, o retrato, o personagem, a luz e a expressão. No processo de pós-produção, ainda tem a edição das fotos, ou seja, escolha de quais vão entrar na revista. Isso é basicamente, além de muitas outras funções na revista, o que eu estou fazendo em minhas tardes bem produtivas, sem falar nas que as pautas caem e você vai no centro ver se acha algum movimento cultural.

 Auto-retrato

Por Mauricio Pokemon

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Somos todos ouvidos

Retrato família hidrante no Ceut
Vocês não sabem, mas eles estão captando vossas mensagens! Vocês dizem, a gente posta.

"Acabo de descer no meio da rua pra medir um hidrante pra @luana_sena" - Tássia Carvalho, estudante, futura arquiteta, gosta de cachorro-quente sem salsicha. (via Twitter)

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"Ah, adorei o adesivo da @ que a minha irmã @ me deu! Já colei na minha pasta nova!"-  Georgia Belém, amiga de fraldas, usa tênis colorido e nos ajudou com os balões falantes. (via Twitter)

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"Nossa. É tanta criatividade que nem cabe nesses três" - a sempre crítica professora Neulza, com uma cara que não convenceu muito.
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"Oie! Foi um prazer contribuir com o trabalho de vocês e pode deixar que vou ajudar na divulgação. Não esqueçam de avisar quando a revista sai!" - Dry Val, uma das entrevistadas para a matéria #rotadadiversão em uma boate.

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"Passei por um hidrante e lembrei de quem?" - Luana Gomes, cursou alguns períodos de publicidade e se mandou para Nova Zelândia. (via SMS)

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"Aposto como o que o povo mais vai gostar nas camisas de vocês são as etiquetas" - mãe do Maurício, que nas horas vagas é também excelente costureira.

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"Adorei isso dos hidrantes. Vou acessar e comentar. Vamos tirar uma foto?" - Márcia Adriana, a professora do sorriso mais gostoso do mundo.

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"@ haha na inove tem biscoito toodo dia p vcs aparecerem por lá, a gente curte demais" - Marcelo Chirstian, que conheci na gravação do programa Parabólica e não pretendo largar nunca mais.

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"O desespero é normal, mas tenham calma. Ter calma também não é parar de produzir. Vamos em frente!" - Samária Andrade, orientadora que acreditou na gente quando nem nós mesmo acreditávamos.

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"Sim, e já elogiaram os filhotes " oooooooooolha cara, que massa " ouvi agorinha isso. Parabéns!" - Leo Galvão, amigo, parceiro e colaborador que não gostou das piadinhas sobre Daniel mini pizza e pastel. (via Twitter)

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"Qual é a daquele monte de dois desenhados em num balãozinho em cima do hidrante ali na parede?" - segurança da faculdade, demonstrando curiosidade.

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"Cara, que bacana! Eu coleciono bloquinhos, sou vidrado nisso. Vou botar o da Caderno Dois lá" - Regis Falcão, fotógrafo que tem bloquinhos intocáveis de mais de 80 reais.

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"Quero um adesivo do @... pode ser por carta. rsrsrs" - Keyane Dias, leitora (via Twitter)

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 "Oi, estou inscrita na semana do ceut e aqueles hidrantes falam por si só: adorei a criatividade da divulgação. Gostei tanto que no intervalo das oficinas fiquei pelo ceut caçando hidrantes tagarelas pelos cantos, esperando que outra mídia seria ilustrada..." - Ludmila Monteiro, leitora que quer entrevistar a gente! (via blog)

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"Cadê a minha camisa da Caderno Dois? Quero uma do meu tamanho." - Maria Helena, coordenadora teen que tem All Star lindos.

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"Vocês dois só podiam trabalhar juntos mesmo. Tava na cara." - mestre Américo Abreu, apontando para mim e Maurício.

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"Sim, garota do hidrante @luana_sena, deu certo lá o recorte e cole da Eliana?" - Rafael Lustosa, amigo, universitário, não perde um pagode.

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"A partir do que vi no blog tenho a certeza de que novos caminhos serão abertos na produção jornalística do Piauí. Lindo ver que três jovens e talentosos jornalistas inovam com uma produção alternativa, inteligente e, absolutamente, atraente ao leitor cansado de consumir porcarias.
PS: adorei a revelação do hidrante. Ele sempre esteve entre nós e eu nunca o tinha percebido!!!!!
Parabéns e boa sorte no trabalho" - Cristiane Ventura, a mãe da Tarsila que tanto nos animou com esse email.

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"Ah, que legal, tava precisando de um hidrante aqui mesmo no corredor" - um desconhecido, descendo as escadas da faculdade.

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"Eu tbm tenho um hidrante do @ no meu notebook. AhAhAhAh..." - Wellington Benario, garoto Blitz TV. (via Twitter)

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"Me avisem a data da banca. Vocês sabem que sou a fã número 1!" - professora Mercedes Rio Lima, mãe da querida Babi. (via email)

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Tempo, seja legal

Descanso? Ô mas que nada. Batalha, almofada, geladeira e Faustão. Almoço. Bolinho de bacalhau. Coca cola ou Grapette? Porque quem bebe, repete. Tesoura, régua, papel, pincel. Lápis, borracha, rabisco, hidrante. Hidrante. HIDRANTE. Risca, refaz, aponta, apaga. Descobre, aprova, destaca, amassa. Mão na caneta, ideia na cabeça, um corpo no sofá. Recorta, desdobra, separa, inventa. Letras, números, cadernos, goiabada. Folha, durex, celular, ventilador. Croqui, esboço, cartolina pelo chão, cansaço pelo teto. E mais coca-cola com gelo, por favor. Amigos, histórias, raiva, ligação. Desespero, gibi, jornal, televisão. Borracha, beijinho, abraço, apontador. Régua, estilete, hidratante, hidrocor. Café, camisa, correria, colagem. Dinheiro, adesivo, carro, bagagem. Livro, logomarca, empolgação, faculdade. Conversa, imaginário, empolgação e saudade. Sono. Pesadelo. Perseguição. TEMPO.

(Originalmente escrito no domingo, 07)

Por: Luana Sena

sábado, 6 de novembro de 2010

A arte de forma real

O Núcleo de Criação do Dirceu (grupo de dança e arte contemporânea) estréia o “Matadouro” na segunda semana de novembro no Rio de Janeiro. Só que até o momento da minha vivência com alguns dos integrantes do grupo, eu não tinha conhecimento sobre a nova peça, então posso inferir duas hipóteses: a de que o núcleo ainda passa despercebido diante dos olhos de muita gente (inclusive eu) ou que não existe interesse do público em relação ao seu trabalho. No entanto, mais do que nunca, o grupo continua a produzir mais e de forma incansável.

Hoje, pode-se dizer que a sede oficial do núcleo é um galpão, que funcionava como depósito de mercadorias de um supermercado, e que está localizado nas imediações do grande Dirceu. Numa mistura de garagem com ateliê de arte, o galpão funciona como espaço para os ensaios e de apresentações alternativas para convidados, e foi numa dessas apresentações que eu e o fotógrafo Maurício Pokemon assistimos ao ensaio aberto de seu mais recente trabalho.

       
A peça tem a duração de aproximadamente uma hora e meia e, segundo minhas próprias interpretações, tem como base a vida cotidiana do Homem diante da vida que é um grande matadouro. Ficou clara para mim a idéia de sofrimento do ser humano, que apesar de todos os esforços converge para um único fim, a morte.  

Logo depois da apresentação, todo o grupo, assim como a pequena platéia de amigos, se reuniu para falar sobre a peça. “Queria me apresentar melhor”, disse. “Eu e o Maurício estamos produzindo uma matéria para nossa revista de cultura sobre a atividade do Núcleo. Em segundo lugar, gostaria de dizer que a idéia é muito boa, essa idéia de representar a atividade cotidiana do homem e tentar mostrar que em muitos casos, quando estamos na correria do dia-a-dia, nos parecemos animais”. Até aí tudo bem. O que não esperava era o Marcelo Evelin, coordenador e membro do núcleo, olhar nos meus olhos e perguntar: “O que você acha que o Núcleo faz para sermos produtores de cultura?”. “Vou resumir em duas palavras: Trabalho e atitude”,conclui. Acho que não preciso dizer mais nada.


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"Eu posso fazer Hollywood aqui no Piauí"

"E ai, meu irmão, como anda a produção"? A primeira pergunta que eu fiz, quando o vi, e seguidamente ele me diz que não está produzindo no momento, e sim tendo outras visões de mundo e vivendo um pouco. Um dos nomes do cinema nacional, reservou um tempinho hoje para a Caderno Dois: fez um ensaio fotográfico, e ainda bateu um papo super crítico sobre a cultura local. Já fazia uma semana que tentávamos marcar esse encontro, e somente hoje, no dia nacional da Cultura, deu certo. Praticamente, esse foi meu primeiro contato com ele, e já me deixou cheio de interrogações e conceitos sobre a atual cena da cultura local. Um documentário sobre seu trabalho está sendo veiculado nacionalmente no Canal Futura, uma das questões discutidas nesse bate-papo. Ele diz que o artista piauiense é acomodado e ficou acostumado a fazer a arte somente para o Piauí, sem nenhum tipo de ambição, no bom sentido, claro. Noto, a cada minuto de conversa, que o documentarista se incomoda muito com o medo que o piauiense tem de expor seu trabalho fora do Estado. "O youtube é um excelente canal de divulgação, eu posso fazer Hollywood aqui no Piauí e lá fora todos vão gostar e ver o meu trabalho". Em meia hora de papo, todas essas verdades revelaram as opiniões críticas e preocupadas que formam o cineasta.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

O pesadelo da matéria sem fim

Um dia eu desisto. Sério, largo notebook, esqueço bloquinho e gravador, e saio andando pelo mundo. Sem meta nem missão. Isso de criar cansa. De verdade. Senti na pele e no corpo um desgaste descomunal após passar exatos 30 dias mastigando uma matéria - era pior do que carne dura, prisão de ventre, visita chata, salário atrasado - não saia por nada no mundo.

Há um mês eu encerrei as entrevistas necessárias pra construir essa matéria. E até então ela não passava de um arquivo do word chamado JINGLE, no meu computador. Sempre que havia uma folguinha eu abria tudo, ficava horas remoendo e zaz: nada ainda. Por vezes desejei ter superpoderes, ou, sei lá, ser mágica e jogar tudo dentro de uma cartola transformando 10 páginas de entrevistas e falas em uma pequena e linda matéria de 1 lauda.

Se meu bloquinho falasse...
 Dez unhas a menos e o saldo de um parágrafo começaram a me aflingir. Já passava de uma hora da manhã de uma sexta-feira qualquer, e eu liguei pra minha mãe aos prantos. Como uma criança desconsolada escuto a voz dela do outro lado da linha dizendo que tudo vai ficar bem. Isso me acalma, desisto por uma noite e enfim, desmaio na cama.

E aí que, estourado todos os prazos estabelecidos, ganho mais uma semana. Conversei com a Sam, nossa orientadora. Menti que a matéria estava pronta, apenas precisando de alguns ajustes. Ela citou algum autor, de algum lugar que dizia "Sabe por que publicamos livros? Para pararmos de reescrevê-los." Pode até ser, porque eu realmente nunca acho que uma matéria minha está pronta até vê-la estampada no jornal. Mas neste caso, eu sequer conseguia começar.

Chego a pensar na possibilidade de derrubar essa matéria, assim, sem dó nem piedade. Estava passando dos limites, ela me consumia dia após dia em uma relação absolutamente doentia. Consigo finalmente um avanço: separo as falas em tópicos e começo a montar aquilo que seria apenas o início de um difícil quebra-cabeça. Nada ainda.

Reservo então um feriado para me ocupar com isso, e somente isso. Sem pressão, sem me preocupar com o relógio. Era inadimissível uma matéria que aparentemente parecia simples representar o peso do mundo que eu sentia agora carregar nas costas. Eu precisava acabar com isso. Rejeitei ligações de amigos, convites para pizza, almoço com a mamãe, briguei com o namorado. Ninguém disse mesmo que seria fácil. 

Eu e Lázaro do Piauí em: "A matéria de um milhão de dias"

No twitter, compartilho a minha dor. Recebo conselhos do professor e amigo Américo. "Converse antes de redigir com o teu editor/a. Ele diz o que espera da matéria e você trabalha menos". Acontece que, neste caso, eu era editora de mim mesmo. E, ao que parecia, o diálogo entre a Luana editora e a Luana chefe não estava funcionando muito bem. Tranquei-me no quarto e não queria mais falar com ninguém, nem comigo.

Parei de lutar e depois de um mês e 24 horas remoendo as entrevistas, constato o óbvio: havia informação demais nisso tudo, era chegada a hora cruel de meter a tesoura. Exclui um personagem, mudei totalmente o foco, e descambei para um tema diferente do que me foi sugerido na reunião de pauta. Algumas entrevistas renderam mais do que o esperado, e era preciso ter jogo de cintura pra não desperdiçar algo que poderia surpreender mais do que a pauta original. Saber lidar com esse tipo de imprevisto, para mim, é o maior desafio de ser jornalsita.

Apaguei tudo. Comecei de novo. E  de repente veio tudo assim, num estalar de dedos, tudo, tudinho: título, subtítulo, começo e fim. Porque se eu não começar a escrever já com uma ideia pro grand'finale, pode esquecer. E foi ai que eu achei uma semelhança entre o sufoco que eu sentia e o trabalho do Lázaro em fazer jingle: tem de haver emoção. 

São quase duas da manhã e eu finalmente terminei. Valeu a pena, o texto tá lindo, embora talvez só eu perceba isso. Tchau angústia, adeus aflição. Mas um dia, anote aí: eu juro que desisto.

Por: Luana Sena
Fotos: Maurício Pokemon