terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nona arte em movimento

O plano era chegar e tentar entrevistar alguém o mais depressa possível. Mas, não funcionou. Na noite do primeiro dia de feira dos quadrinhos, realizado entre os dias 15 e 17 de outubro, nenhum pé de cristão ligava para minhas perguntas. Óbvio: todos queriam ver o Seiya de Pégaso, ou melhor, Hermes Baroli o brasileiro que fez a dublagem de um dos personagens de Mangá mais conhecido no mundo. 

Resolvi circular com a intenção de pegar um desatento às programações. Nada, de novo. Enquanto uns corriam para fotografar o “Pégaso” outros assistiam às exibições de Anime no auditório. Então, tudo bem. Puxei os dez reais da gasolina de dentro da bolsa e comprei uma edição da Marvel Comics: o número 48 da série guerra civil.  

Para quem é realmente fã de HQs, a feira é o que se pode chamar de perdição. Muita revista, algumas fantasias para os praticantes e cosplay, miniaturas dos personagens japoneses, uma miniatura magnífica do Rorschach, anti-herói da série Watcmen (detalhe, ao custo de 130,00 reais), uma edição impecável da Liga Extraordinária, e a série Sin City do aclamado autor Frank Miller. Mas, além disso, mais uma vez a sala Torquato Neto abrigava vários trabalhos inéditos dos artistas sem alternativas de publicação. O que é bom, pois são esses trabalhos que concorrem a prêmios no ultimo dia de feira.


 Dando outra circulada encontrei o livro Foices e Facões, do quadrinhista piauiense Bernardo Aurélio. Duas curiosidades: o preço simbólico de 35 reais para um trabalho dessa magnitude e a idéia de que eu precisava do autor para minha matéria. Mas, onde? Até àquela hora nenhum sinal dele.

Deveria ter levado a sério quando ele me disse que seria complicada a entrevista. “Espera um pouco” ele disse. Esperei. Meia hora, que se transformou rapidamente em uma hora, e mais meia hora e mais meia. No auditório uma mesa-redonda sobre regionalismo e mercado de quadrinhos, onde ele, Jô Oliveira, Leno Carvalho discutiam com uma galera.

Por volta das sete da noite Bernardo chegou para mim e disse: “Tô indo deixar o Jô no hotel, tu acompanha agente e faz a entrevista”. Ótimo! Pensei. E foi assim, gravador ligado e atenção voltada para não perder nenhum momento, nem a buzina do carro nem as questões sobre a nona arte.    

Por: Diego Noleto
Foto: Maurício Pokemon

sábado, 23 de outubro de 2010

Campanha política: 12 dicas para fazer seu próprio jingle

1) Música não dá voto. O jingle dá apenas o tom da campanha. Não que isso não seja importante - um cartaz ou um santinho após visto pelo eleitor, só ajudam a poluir a cidade. A música eterniza seu nome e número e ainda pode influenciar os indecisos na hora de votar.
 
2) Iguais a você existem milhões. Todos sempre com o mesmo perfil: honesto, sério, comprometido, com o propósito de ajudar o povo e trazer melhorias, caso seja eleito. Encontre o seu diferencial.

3) Você tem que se vender, como um guaraná ou marca de sabão. Não é preciso acreditar nas suas próprias propostas para convencer o eleitor. Isso é o que a publicidade faz há anos, e ninguém nunca reclamou.

4) É preciso emocionar. Anote aí: o que não emociona, não funciona. Se terminar de cantar um jingle e não se sentir tocado com a mensagem, rasgue o borrão e comece outro.

5) Acredite na inspiração. Se levar dois dias batendo cabeça com uma estrofe ou refrão, reflita. Pare, tome um café, e vá se dedicar a outra atividade. De repente, no meio da noite, quando você menos esperar, seu sono pode ser interrompido pela brilhante ideia que faltava.

6) Resuma. O jingle exige de seu compositor um grande poder de síntese. Nada de unha encravada, fossa que fez na rua do bairro tal e bicicleta que deu para um favelado quando foi vereador. O primeiro trabalho é o de se convencer de que o modelo de jingle que se conhecia há 20 anos esta defasado.

7) Dizer frases mentirosas também não é aconselhável. É pedir muito que se pinte de honesto pelo menos no jingle? Se você falar de obras que nunca foram concluídas, e de repúdio a corrupção estando envolvido em escândalos sobre desvio de verba pública, nem se iluda: você vai virar chacota.

8) O objetivo, de fato, é massificar. E pra isso você tem que repetir. Só a repetição traz a memorização. Mas é bom lembrar que água demais também mata a planta. Nada de carro de som parado embaixo da mesma janela, da mesma casa, todos os dias.

9) Esqueça o nome: o segredo é trabalhar o número. Quem por acaso não se lembra do povo do 14 passando por aqui? O candidato pode até ter perdido a eleição, mas o jingle foi sucesso.

10) Saiba usar as agressões dos concorrentes a seu favor, assim como detalhes exclusivos da sua personalidade ou de acontecimentos no período de campanha. Muitas vezes, aquilo que pensamos ser prejudicial pode ser na verdade um grande trunfo e ajudar na sua popularidade. É tudo uma questão de ser otimista.

11) Fuja das paródias como o diabo foge da cruz. Além de mal feitas e descontextualizadas, muitos candidatos podem ter a mesma ideia de usar aquele forró ou axé do momento. Isso acaba por destruir uma possível identidade musical. E ninguém quer entrar na campanha já com fama de copião, né?

12) E nunca, jamais, em hipótese alguma erre o seu próprio número. Pode parecer absurdo, mas é mais comum do que se imagina, principalmente em jingles encomendados. Essa pode ser uma pequena falha de desatenção com conseqüências trágicas e irreversíveis. 

Por: Luana Sena

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O homem do caixão

Algumas coisas na vida não acontecem por acaso. Foi a essa conclusão que cheguei após conhecer Frank Farias em uma noite fria de sábado em Teresina. Isso mesmo, fria. Os termômetros marcavam 20 graus na cidade. Eu e o fotógrafo Mauricio Pokémon fizemos, aliás, questão de registrar isso com nossos próprios olhos ao deixarmos o bairro Dirceu Arcoverde sob a neblina que cobria a região naquela noite.

Naquele verão meio inverno no final de junho, fui acometida por uma das maiores faringites da minha vida. E foi um tanto quanto afônica que, digamos, conversei com aquela figura inusitada. Frank nos recebia em seu bar trajando bermuda e camiseta, descalço e com um cigarro no bico, bem ao estilo dono da festa. Em posse de uma taça de vinho, sentou-se a nossa mesa e nos falou de histórias do passado, presente, e futuro, sem se preocupar com o que nós, ali tão jovens e alheios aqueles acontecimentos pudéssemos pensar ou concluir.

Gostei de cara do que via e ouvia. Tive naquele instante o que costumo chamar de “soluço inspiratório”. E o soluço quase virou um verdadeiro engasgo quando ele, Frank, num impulso correu pro violão e nos saldou com suas composições. Aquele timbre forte, agressivo, rouco e único nos brindava com músicas que fizeram parte da história dos festivais e da música piauiense, e eu tentava puxar na memória alguma referência audiovisual sobre aquilo. Esforço inútil. Para a geração bandas covers, Frank praticamente pertencia ao anonimato, e eu precisava agir rápido para que ele, como tantos outros artistas locais, não se perdesse na triste espiral do silêncio.



(Mais em Caderno Dois #2)


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Uma história de amor e água

Era uma vez um hidrante. Sim, esse mesmo, marcador de água que serve de auxílio aos bombeiros  para ajudar no combate a incêndios. Ligado a uma fonte, ele possui uma ou mais bocas onde se encaixam as mangueiras e uma válvula que funciona como torneira para controlar a saída de água. Até aí, tudo ok. Pura e simples curiosidade.

Nessa história, entretanto, existe também um fotógrafo. De nome Maurício e sobrenome Pokemon, nosso desbravador de cotidianos começou a perceber naquele curioso objeto vermelho que toma o calçamento das ruas, algo até então ignorado. Quase nada funcional, o hidrante está sempre por ali, parado, como se observasse silenciosamente a tudo e a todos, testemunhando cenas e episódios curiosos ou irrelevantes - até que algo ou o mundo pegue fogo. Batata! Estava ali, naquela ligeira preocupação, um pequeno símbolo despercebido da urbanização.


Começou então a vigília e o mapeamento de todos os pequenos cidadãos da comunidade hidrante teresinense. Loucura? Tanto faz. Lá estava Maurício Pokemon, 8 horas da manhã ou 3 da madrugada clicando os atos e cenários mais inusitados, como o assento improvisado do tiozinho, o choro inconsolável do anão, e aquele rápido bate-papo com um velho amigo pra matar o tempo que parece nunca passar na cidade que observam se movimentar.

Até aquela fatídica noite em que, ao voltar da faculdade, nosso jovem fotógrafo se depara com uma cena que parecia sair das telas e dos desenhos animados. Um carro do corpo de bombeiro finalmente se dava por vencido e recorria a ajuda do pequeno e solícito hidrante que, não contendo tamanha emoção e entusiasmo, alagava tudo ao redor. Desprevenido, Maurício acelera e corre em busca de flashes e lentes especiais para registrar o momento. Ao retornar ao local, tristeza e frustração: seja lá onde fosse o incêndio, o fogo não podia esperar. E daquele dia em diante, Maurício entendeu como era triste e vazio o homem sem uma câmera.

Mas o grande momento estava por vir. Passada a ânsia e euforia dos primeiros registros e tendo quase todos os hidrantes da cidade catalogados, apenas a última - e nem por isso menos importante - foto ainda estava por fazer. E como uma mensagem ou aviso divino, cairam do céu - ou do inferno das mentes ignorantes - as queimadas. Zaz, lá estava a cena que faltava para esse conto ficar feliz.

Atingido o objetivo, só uma questão ainda pairava na mente conturbada do nosso guerreiro. De onde vinha a curiosa intimidade com os elementos fotografados? Por que estranhamente eles pareciam se comunicar com ele? Pertubado e prestes a procurar auxílio médico ou conselhos de amigos em mesa de bar, Maurício conseguiu sozinho a resposta para todas as dúvidas e indagações em um antigo álbum de família.


Revirando os baús e arquivos ele encontrou registros surpreendentes de sua infância e adolescência. Lá estavam elas, quase amareladas pelo tempo, eternizando dois importantes momentos de sua vida. Cabeludo e de boné, ele aparece em 2008,  participando de um campeonato de skate e já discretamente prozendo com o vermelhinho. Na segunda imagem, aos 5 anos e vestindo amarelo, outra vez ao lado do novo amigo. Enquanto toda a cidade fazia fila para tocar na taça conquistada pelo país do futebol, o pequeno Maurício, serelepe e sorridente, abarcava o hidrante.

Reencontros, acertos e águas do passado. Pois não, uma linda e emocionante história .

Por: Luana Sena
Fotos: Arquivo Pessoal e Maurício Pokemon

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Avohaima simpatia


No telefone a voz era de pouca empolgação. "Mas à noite é tão ruim pra fazer foto...", alegava o músico. Com um pouco mais de insistência e reforçando a voz e o olhar de pidona (que embora ele não pudesse ver, trouxe resultado), ele topou. E lá estávamos nós, mais de 23h da noite, ainda na casa/estúdio do Roraima.

Mais de 20 anos de carreira, arrisco dizer que não há ninguém neste estado que não conheça ou tenha ouvido falar de Roraima. Quatro álbuns lançados - e um novinho, no forno, que nos mostrou em exclusividade - alguns solos outros em parcerias, o cantor e compositor completamente autodidata se destaca por ser agregador e está sempre procurando estilos e variações que o permitam está em constante mudança, sem abrir mão, é claro, de seu talento peculiar. É uma maneira de se renovar, diz.

Um dos seus últimos projetos, a Teregroovie, surgiu para resgatar o samba-rock em Teresina. Funcionou, e após um longo período subindo ao palco com 12 pessoas, o cantor decidiu resumir e sintetizar tudo: surgiu a ideia do TRIO, que na verdade, sempre existiu, por ser mais viável e prático tocar com pouca gente. Mais pessoas seriam incorporadas a formação, se durante os ensaios não tivesse sido percebido que as meninas davam conta do recado: Karolaine e Alê Pinheiro, baixista e percussionistas que acompanham Roraima nessa empreitada, somam beleza e talento ao novo show. E o fato de serem mulheres e lindas, Roraima jura: é mera coincidência.

Sem rótulos, sem cansar: este é o avohaima, que ninguém acredita está chegando ao meio século de existência assim, abrindo a porta de casa na noite de uma segunda-feira para receber dois jovens e incovenientes repórteres que desejam abraçar o mundo: em quase 4 horas de conversas, risos, e mais risos do que qualquer outra coisa, colhemos material para revista, jornal, livro e até uma biografia completa sobre o cantor com nome de estado. Em 15 minutos de papo, Roraima parecia da turma e virou nosso queridinho pela sintonia com que fluiu nossa entrevista.

Saímos do RR estúdio contentes e animados para seguir em frente. Sexta-feira já está marcado na agenda: Roraima Trio, no Bossa Nova. Vamos ver de perto essa energia no palco e quem sabe conversar um pouco mais sobre sua música e carreira. Muito embora, na verdade, a contribuição de Roraima para nossa revista passe ao largo de tudo isso.

Por: Luana Sena
Foto: Maurício Pokemon