domingo, 19 de dezembro de 2010

O caderno é DEZ

O Caderno Dois. Três integrantes. Vários colaboradores. Três na banca. Uma orientadora. Cinco exemplares. Mil ideias. Três amigos. Trinta e duas páginas. Uma revista. Um blog. Várias postagens. Alguns comentários. Muitas críticas. Muitos elogios. Durante todo o tempo, as coisas se atropelavam. É muita coisa para três pessoas. Imagina para duas. Tem que ser tudo, tudo mesmo. Muitas fotos. Muitos textos. Um tratador de imagens, que nem sabia que ia tratar. Tempo curto. Muita coisa, poucas horas. Os números são muitos, mas outros sem números. Muita informação. Muitas pautas. Muitas discussões. Alguns cortes. Muitos telefonemas. Vários contatos. Algumas decepções. Muitos hidrantes, poucos notados. Um carro. Um motorista. Pouco dinheiro. Um prego de gasolina. Um objetivo. Uma meta. Prazo único. Um caderno. Um, dois... dez.
 
Capa Revista Caderno Dois #01

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Caderno Dois: a odisséia final

Foram meses agendando entrevistas, horas de conversas e dias inteiros dedicados a escrita. E a famosa matéria de um milhão de dias, levou menos que dois segundos para cair.

O fechamento de uma revista é mesmo marcado  pro fortes emoções. É como o último capítulo de uma novela: num piscar de olhos, você vai do riso ao choro, e é preciso ser bem forte pra resistir. É com um enorme aperto no coração que venho dizer a vocês que a matéria sobre a produção de jingles não entrou na revista. E é com uma felicidade sem igual que eu digo também: temos uma revista!

Nos últimos minutos que antecederam o nosso rpazo de entrega na faculdade, vivemos momentos dignos de ser contados no arquivo confidencial do Faustão. Ficamos no prego, a energia acabou faltando 3 páginas da última impressão, a xerox fechou antes que terminássemos o relatório e caminhamos por meia hora no sol a pino de 3 horas da tarde. Ao menos descobrimos uma excelente função para o formato original da nossa revista: um excelente para-sol.

E por falar em formato, a Caderno Dois também mudou de tamanho. Concordamos, no último minuto, que o formato A4 é realmente mais prático, mais cômodo para carregar e tem maior aproveitamento de papel - sendo assim também mais barata. Só depois descobririamos com a nossa diagramadora que fazer no A4 era até mais fácil. Enfim, não seríamos nós se não tivessemos ido pelo caminho mais difícil, como sempre...

O que fica agora é a sensação de dever cumprido. E a vontade de estar nas bancas. Mas falta pouco. A gente deve um muito obrigada a um monte de gente a quem alugamos sem o menor receio de parecer chato ou inconveniente. E nessa lista estão Tatiara de França, que por certo quis nos matar varias vezes, Samária Andrade, pra quem ligávamos a qualquer hora do dia ou da noite, Anna Kelma, que matou uns minutos de aula só pra falar com a gente, e também pro cara da gráfica, que estrapolou seus minutos de trabalho só para ver nossa revista pronta.

E isso não são só peripécias de um grande final. Na verdade, é apenas o começo.

Por Luana Sena

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

De tudo, uma foto

Geral fotográfica

Música no bar, agressão no rosto, conversa construtiva, stress, prazer em visitar, espetáculo, desenhos, ligações, correria. Entre fotógrafo e motorista, vou tendo experiências que ficarão para vida toda. Somos três na revista, e eu, responsável pela fotografia, tenho o maior contato com a produção das pautas, ora com Luana Sena, ora com Diego Noleto, fora um mochilão nas costas com mais de cinco kilos de equipamentos, que sempre me acompanha, entre filmes, flashs e câmeras. Na mente, sempre a ideia da foto tem que vir antes que o dia do ensaio, ou pauta. Na produção, imagino tudo, a cena, o retrato, o personagem, a luz e a expressão. No processo de pós-produção, ainda tem a edição das fotos, ou seja, escolha de quais vão entrar na revista. Isso é basicamente, além de muitas outras funções na revista, o que eu estou fazendo em minhas tardes bem produtivas, sem falar nas que as pautas caem e você vai no centro ver se acha algum movimento cultural.

 Auto-retrato

Por Mauricio Pokemon

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Somos todos ouvidos

Retrato família hidrante no Ceut
Vocês não sabem, mas eles estão captando vossas mensagens! Vocês dizem, a gente posta.

"Acabo de descer no meio da rua pra medir um hidrante pra @luana_sena" - Tássia Carvalho, estudante, futura arquiteta, gosta de cachorro-quente sem salsicha. (via Twitter)

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"Ah, adorei o adesivo da @ que a minha irmã @ me deu! Já colei na minha pasta nova!"-  Georgia Belém, amiga de fraldas, usa tênis colorido e nos ajudou com os balões falantes. (via Twitter)

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"Nossa. É tanta criatividade que nem cabe nesses três" - a sempre crítica professora Neulza, com uma cara que não convenceu muito.
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"Oie! Foi um prazer contribuir com o trabalho de vocês e pode deixar que vou ajudar na divulgação. Não esqueçam de avisar quando a revista sai!" - Dry Val, uma das entrevistadas para a matéria #rotadadiversão em uma boate.

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"Passei por um hidrante e lembrei de quem?" - Luana Gomes, cursou alguns períodos de publicidade e se mandou para Nova Zelândia. (via SMS)

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"Aposto como o que o povo mais vai gostar nas camisas de vocês são as etiquetas" - mãe do Maurício, que nas horas vagas é também excelente costureira.

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"Adorei isso dos hidrantes. Vou acessar e comentar. Vamos tirar uma foto?" - Márcia Adriana, a professora do sorriso mais gostoso do mundo.

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"@ haha na inove tem biscoito toodo dia p vcs aparecerem por lá, a gente curte demais" - Marcelo Chirstian, que conheci na gravação do programa Parabólica e não pretendo largar nunca mais.

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"O desespero é normal, mas tenham calma. Ter calma também não é parar de produzir. Vamos em frente!" - Samária Andrade, orientadora que acreditou na gente quando nem nós mesmo acreditávamos.

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"Sim, e já elogiaram os filhotes " oooooooooolha cara, que massa " ouvi agorinha isso. Parabéns!" - Leo Galvão, amigo, parceiro e colaborador que não gostou das piadinhas sobre Daniel mini pizza e pastel. (via Twitter)

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"Qual é a daquele monte de dois desenhados em num balãozinho em cima do hidrante ali na parede?" - segurança da faculdade, demonstrando curiosidade.

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"Cara, que bacana! Eu coleciono bloquinhos, sou vidrado nisso. Vou botar o da Caderno Dois lá" - Regis Falcão, fotógrafo que tem bloquinhos intocáveis de mais de 80 reais.

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"Quero um adesivo do @... pode ser por carta. rsrsrs" - Keyane Dias, leitora (via Twitter)

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 "Oi, estou inscrita na semana do ceut e aqueles hidrantes falam por si só: adorei a criatividade da divulgação. Gostei tanto que no intervalo das oficinas fiquei pelo ceut caçando hidrantes tagarelas pelos cantos, esperando que outra mídia seria ilustrada..." - Ludmila Monteiro, leitora que quer entrevistar a gente! (via blog)

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"Cadê a minha camisa da Caderno Dois? Quero uma do meu tamanho." - Maria Helena, coordenadora teen que tem All Star lindos.

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"Vocês dois só podiam trabalhar juntos mesmo. Tava na cara." - mestre Américo Abreu, apontando para mim e Maurício.

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"Sim, garota do hidrante @luana_sena, deu certo lá o recorte e cole da Eliana?" - Rafael Lustosa, amigo, universitário, não perde um pagode.

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"A partir do que vi no blog tenho a certeza de que novos caminhos serão abertos na produção jornalística do Piauí. Lindo ver que três jovens e talentosos jornalistas inovam com uma produção alternativa, inteligente e, absolutamente, atraente ao leitor cansado de consumir porcarias.
PS: adorei a revelação do hidrante. Ele sempre esteve entre nós e eu nunca o tinha percebido!!!!!
Parabéns e boa sorte no trabalho" - Cristiane Ventura, a mãe da Tarsila que tanto nos animou com esse email.

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"Ah, que legal, tava precisando de um hidrante aqui mesmo no corredor" - um desconhecido, descendo as escadas da faculdade.

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"Eu tbm tenho um hidrante do @ no meu notebook. AhAhAhAh..." - Wellington Benario, garoto Blitz TV. (via Twitter)

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"Me avisem a data da banca. Vocês sabem que sou a fã número 1!" - professora Mercedes Rio Lima, mãe da querida Babi. (via email)

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Tempo, seja legal

Descanso? Ô mas que nada. Batalha, almofada, geladeira e Faustão. Almoço. Bolinho de bacalhau. Coca cola ou Grapette? Porque quem bebe, repete. Tesoura, régua, papel, pincel. Lápis, borracha, rabisco, hidrante. Hidrante. HIDRANTE. Risca, refaz, aponta, apaga. Descobre, aprova, destaca, amassa. Mão na caneta, ideia na cabeça, um corpo no sofá. Recorta, desdobra, separa, inventa. Letras, números, cadernos, goiabada. Folha, durex, celular, ventilador. Croqui, esboço, cartolina pelo chão, cansaço pelo teto. E mais coca-cola com gelo, por favor. Amigos, histórias, raiva, ligação. Desespero, gibi, jornal, televisão. Borracha, beijinho, abraço, apontador. Régua, estilete, hidratante, hidrocor. Café, camisa, correria, colagem. Dinheiro, adesivo, carro, bagagem. Livro, logomarca, empolgação, faculdade. Conversa, imaginário, empolgação e saudade. Sono. Pesadelo. Perseguição. TEMPO.

(Originalmente escrito no domingo, 07)

Por: Luana Sena

sábado, 6 de novembro de 2010

A arte de forma real

O Núcleo de Criação do Dirceu (grupo de dança e arte contemporânea) estréia o “Matadouro” na segunda semana de novembro no Rio de Janeiro. Só que até o momento da minha vivência com alguns dos integrantes do grupo, eu não tinha conhecimento sobre a nova peça, então posso inferir duas hipóteses: a de que o núcleo ainda passa despercebido diante dos olhos de muita gente (inclusive eu) ou que não existe interesse do público em relação ao seu trabalho. No entanto, mais do que nunca, o grupo continua a produzir mais e de forma incansável.

Hoje, pode-se dizer que a sede oficial do núcleo é um galpão, que funcionava como depósito de mercadorias de um supermercado, e que está localizado nas imediações do grande Dirceu. Numa mistura de garagem com ateliê de arte, o galpão funciona como espaço para os ensaios e de apresentações alternativas para convidados, e foi numa dessas apresentações que eu e o fotógrafo Maurício Pokemon assistimos ao ensaio aberto de seu mais recente trabalho.

       
A peça tem a duração de aproximadamente uma hora e meia e, segundo minhas próprias interpretações, tem como base a vida cotidiana do Homem diante da vida que é um grande matadouro. Ficou clara para mim a idéia de sofrimento do ser humano, que apesar de todos os esforços converge para um único fim, a morte.  

Logo depois da apresentação, todo o grupo, assim como a pequena platéia de amigos, se reuniu para falar sobre a peça. “Queria me apresentar melhor”, disse. “Eu e o Maurício estamos produzindo uma matéria para nossa revista de cultura sobre a atividade do Núcleo. Em segundo lugar, gostaria de dizer que a idéia é muito boa, essa idéia de representar a atividade cotidiana do homem e tentar mostrar que em muitos casos, quando estamos na correria do dia-a-dia, nos parecemos animais”. Até aí tudo bem. O que não esperava era o Marcelo Evelin, coordenador e membro do núcleo, olhar nos meus olhos e perguntar: “O que você acha que o Núcleo faz para sermos produtores de cultura?”. “Vou resumir em duas palavras: Trabalho e atitude”,conclui. Acho que não preciso dizer mais nada.


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"Eu posso fazer Hollywood aqui no Piauí"

"E ai, meu irmão, como anda a produção"? A primeira pergunta que eu fiz, quando o vi, e seguidamente ele me diz que não está produzindo no momento, e sim tendo outras visões de mundo e vivendo um pouco. Um dos nomes do cinema nacional, reservou um tempinho hoje para a Caderno Dois: fez um ensaio fotográfico, e ainda bateu um papo super crítico sobre a cultura local. Já fazia uma semana que tentávamos marcar esse encontro, e somente hoje, no dia nacional da Cultura, deu certo. Praticamente, esse foi meu primeiro contato com ele, e já me deixou cheio de interrogações e conceitos sobre a atual cena da cultura local. Um documentário sobre seu trabalho está sendo veiculado nacionalmente no Canal Futura, uma das questões discutidas nesse bate-papo. Ele diz que o artista piauiense é acomodado e ficou acostumado a fazer a arte somente para o Piauí, sem nenhum tipo de ambição, no bom sentido, claro. Noto, a cada minuto de conversa, que o documentarista se incomoda muito com o medo que o piauiense tem de expor seu trabalho fora do Estado. "O youtube é um excelente canal de divulgação, eu posso fazer Hollywood aqui no Piauí e lá fora todos vão gostar e ver o meu trabalho". Em meia hora de papo, todas essas verdades revelaram as opiniões críticas e preocupadas que formam o cineasta.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

O pesadelo da matéria sem fim

Um dia eu desisto. Sério, largo notebook, esqueço bloquinho e gravador, e saio andando pelo mundo. Sem meta nem missão. Isso de criar cansa. De verdade. Senti na pele e no corpo um desgaste descomunal após passar exatos 30 dias mastigando uma matéria - era pior do que carne dura, prisão de ventre, visita chata, salário atrasado - não saia por nada no mundo.

Há um mês eu encerrei as entrevistas necessárias pra construir essa matéria. E até então ela não passava de um arquivo do word chamado JINGLE, no meu computador. Sempre que havia uma folguinha eu abria tudo, ficava horas remoendo e zaz: nada ainda. Por vezes desejei ter superpoderes, ou, sei lá, ser mágica e jogar tudo dentro de uma cartola transformando 10 páginas de entrevistas e falas em uma pequena e linda matéria de 1 lauda.

Se meu bloquinho falasse...
 Dez unhas a menos e o saldo de um parágrafo começaram a me aflingir. Já passava de uma hora da manhã de uma sexta-feira qualquer, e eu liguei pra minha mãe aos prantos. Como uma criança desconsolada escuto a voz dela do outro lado da linha dizendo que tudo vai ficar bem. Isso me acalma, desisto por uma noite e enfim, desmaio na cama.

E aí que, estourado todos os prazos estabelecidos, ganho mais uma semana. Conversei com a Sam, nossa orientadora. Menti que a matéria estava pronta, apenas precisando de alguns ajustes. Ela citou algum autor, de algum lugar que dizia "Sabe por que publicamos livros? Para pararmos de reescrevê-los." Pode até ser, porque eu realmente nunca acho que uma matéria minha está pronta até vê-la estampada no jornal. Mas neste caso, eu sequer conseguia começar.

Chego a pensar na possibilidade de derrubar essa matéria, assim, sem dó nem piedade. Estava passando dos limites, ela me consumia dia após dia em uma relação absolutamente doentia. Consigo finalmente um avanço: separo as falas em tópicos e começo a montar aquilo que seria apenas o início de um difícil quebra-cabeça. Nada ainda.

Reservo então um feriado para me ocupar com isso, e somente isso. Sem pressão, sem me preocupar com o relógio. Era inadimissível uma matéria que aparentemente parecia simples representar o peso do mundo que eu sentia agora carregar nas costas. Eu precisava acabar com isso. Rejeitei ligações de amigos, convites para pizza, almoço com a mamãe, briguei com o namorado. Ninguém disse mesmo que seria fácil. 

Eu e Lázaro do Piauí em: "A matéria de um milhão de dias"

No twitter, compartilho a minha dor. Recebo conselhos do professor e amigo Américo. "Converse antes de redigir com o teu editor/a. Ele diz o que espera da matéria e você trabalha menos". Acontece que, neste caso, eu era editora de mim mesmo. E, ao que parecia, o diálogo entre a Luana editora e a Luana chefe não estava funcionando muito bem. Tranquei-me no quarto e não queria mais falar com ninguém, nem comigo.

Parei de lutar e depois de um mês e 24 horas remoendo as entrevistas, constato o óbvio: havia informação demais nisso tudo, era chegada a hora cruel de meter a tesoura. Exclui um personagem, mudei totalmente o foco, e descambei para um tema diferente do que me foi sugerido na reunião de pauta. Algumas entrevistas renderam mais do que o esperado, e era preciso ter jogo de cintura pra não desperdiçar algo que poderia surpreender mais do que a pauta original. Saber lidar com esse tipo de imprevisto, para mim, é o maior desafio de ser jornalsita.

Apaguei tudo. Comecei de novo. E  de repente veio tudo assim, num estalar de dedos, tudo, tudinho: título, subtítulo, começo e fim. Porque se eu não começar a escrever já com uma ideia pro grand'finale, pode esquecer. E foi ai que eu achei uma semelhança entre o sufoco que eu sentia e o trabalho do Lázaro em fazer jingle: tem de haver emoção. 

São quase duas da manhã e eu finalmente terminei. Valeu a pena, o texto tá lindo, embora talvez só eu perceba isso. Tchau angústia, adeus aflição. Mas um dia, anote aí: eu juro que desisto.

Por: Luana Sena
Fotos: Maurício Pokemon

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nona arte em movimento

O plano era chegar e tentar entrevistar alguém o mais depressa possível. Mas, não funcionou. Na noite do primeiro dia de feira dos quadrinhos, realizado entre os dias 15 e 17 de outubro, nenhum pé de cristão ligava para minhas perguntas. Óbvio: todos queriam ver o Seiya de Pégaso, ou melhor, Hermes Baroli o brasileiro que fez a dublagem de um dos personagens de Mangá mais conhecido no mundo. 

Resolvi circular com a intenção de pegar um desatento às programações. Nada, de novo. Enquanto uns corriam para fotografar o “Pégaso” outros assistiam às exibições de Anime no auditório. Então, tudo bem. Puxei os dez reais da gasolina de dentro da bolsa e comprei uma edição da Marvel Comics: o número 48 da série guerra civil.  

Para quem é realmente fã de HQs, a feira é o que se pode chamar de perdição. Muita revista, algumas fantasias para os praticantes e cosplay, miniaturas dos personagens japoneses, uma miniatura magnífica do Rorschach, anti-herói da série Watcmen (detalhe, ao custo de 130,00 reais), uma edição impecável da Liga Extraordinária, e a série Sin City do aclamado autor Frank Miller. Mas, além disso, mais uma vez a sala Torquato Neto abrigava vários trabalhos inéditos dos artistas sem alternativas de publicação. O que é bom, pois são esses trabalhos que concorrem a prêmios no ultimo dia de feira.


 Dando outra circulada encontrei o livro Foices e Facões, do quadrinhista piauiense Bernardo Aurélio. Duas curiosidades: o preço simbólico de 35 reais para um trabalho dessa magnitude e a idéia de que eu precisava do autor para minha matéria. Mas, onde? Até àquela hora nenhum sinal dele.

Deveria ter levado a sério quando ele me disse que seria complicada a entrevista. “Espera um pouco” ele disse. Esperei. Meia hora, que se transformou rapidamente em uma hora, e mais meia hora e mais meia. No auditório uma mesa-redonda sobre regionalismo e mercado de quadrinhos, onde ele, Jô Oliveira, Leno Carvalho discutiam com uma galera.

Por volta das sete da noite Bernardo chegou para mim e disse: “Tô indo deixar o Jô no hotel, tu acompanha agente e faz a entrevista”. Ótimo! Pensei. E foi assim, gravador ligado e atenção voltada para não perder nenhum momento, nem a buzina do carro nem as questões sobre a nona arte.    

Por: Diego Noleto
Foto: Maurício Pokemon

sábado, 23 de outubro de 2010

Campanha política: 12 dicas para fazer seu próprio jingle

1) Música não dá voto. O jingle dá apenas o tom da campanha. Não que isso não seja importante - um cartaz ou um santinho após visto pelo eleitor, só ajudam a poluir a cidade. A música eterniza seu nome e número e ainda pode influenciar os indecisos na hora de votar.
 
2) Iguais a você existem milhões. Todos sempre com o mesmo perfil: honesto, sério, comprometido, com o propósito de ajudar o povo e trazer melhorias, caso seja eleito. Encontre o seu diferencial.

3) Você tem que se vender, como um guaraná ou marca de sabão. Não é preciso acreditar nas suas próprias propostas para convencer o eleitor. Isso é o que a publicidade faz há anos, e ninguém nunca reclamou.

4) É preciso emocionar. Anote aí: o que não emociona, não funciona. Se terminar de cantar um jingle e não se sentir tocado com a mensagem, rasgue o borrão e comece outro.

5) Acredite na inspiração. Se levar dois dias batendo cabeça com uma estrofe ou refrão, reflita. Pare, tome um café, e vá se dedicar a outra atividade. De repente, no meio da noite, quando você menos esperar, seu sono pode ser interrompido pela brilhante ideia que faltava.

6) Resuma. O jingle exige de seu compositor um grande poder de síntese. Nada de unha encravada, fossa que fez na rua do bairro tal e bicicleta que deu para um favelado quando foi vereador. O primeiro trabalho é o de se convencer de que o modelo de jingle que se conhecia há 20 anos esta defasado.

7) Dizer frases mentirosas também não é aconselhável. É pedir muito que se pinte de honesto pelo menos no jingle? Se você falar de obras que nunca foram concluídas, e de repúdio a corrupção estando envolvido em escândalos sobre desvio de verba pública, nem se iluda: você vai virar chacota.

8) O objetivo, de fato, é massificar. E pra isso você tem que repetir. Só a repetição traz a memorização. Mas é bom lembrar que água demais também mata a planta. Nada de carro de som parado embaixo da mesma janela, da mesma casa, todos os dias.

9) Esqueça o nome: o segredo é trabalhar o número. Quem por acaso não se lembra do povo do 14 passando por aqui? O candidato pode até ter perdido a eleição, mas o jingle foi sucesso.

10) Saiba usar as agressões dos concorrentes a seu favor, assim como detalhes exclusivos da sua personalidade ou de acontecimentos no período de campanha. Muitas vezes, aquilo que pensamos ser prejudicial pode ser na verdade um grande trunfo e ajudar na sua popularidade. É tudo uma questão de ser otimista.

11) Fuja das paródias como o diabo foge da cruz. Além de mal feitas e descontextualizadas, muitos candidatos podem ter a mesma ideia de usar aquele forró ou axé do momento. Isso acaba por destruir uma possível identidade musical. E ninguém quer entrar na campanha já com fama de copião, né?

12) E nunca, jamais, em hipótese alguma erre o seu próprio número. Pode parecer absurdo, mas é mais comum do que se imagina, principalmente em jingles encomendados. Essa pode ser uma pequena falha de desatenção com conseqüências trágicas e irreversíveis. 

Por: Luana Sena

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O homem do caixão

Algumas coisas na vida não acontecem por acaso. Foi a essa conclusão que cheguei após conhecer Frank Farias em uma noite fria de sábado em Teresina. Isso mesmo, fria. Os termômetros marcavam 20 graus na cidade. Eu e o fotógrafo Mauricio Pokémon fizemos, aliás, questão de registrar isso com nossos próprios olhos ao deixarmos o bairro Dirceu Arcoverde sob a neblina que cobria a região naquela noite.

Naquele verão meio inverno no final de junho, fui acometida por uma das maiores faringites da minha vida. E foi um tanto quanto afônica que, digamos, conversei com aquela figura inusitada. Frank nos recebia em seu bar trajando bermuda e camiseta, descalço e com um cigarro no bico, bem ao estilo dono da festa. Em posse de uma taça de vinho, sentou-se a nossa mesa e nos falou de histórias do passado, presente, e futuro, sem se preocupar com o que nós, ali tão jovens e alheios aqueles acontecimentos pudéssemos pensar ou concluir.

Gostei de cara do que via e ouvia. Tive naquele instante o que costumo chamar de “soluço inspiratório”. E o soluço quase virou um verdadeiro engasgo quando ele, Frank, num impulso correu pro violão e nos saldou com suas composições. Aquele timbre forte, agressivo, rouco e único nos brindava com músicas que fizeram parte da história dos festivais e da música piauiense, e eu tentava puxar na memória alguma referência audiovisual sobre aquilo. Esforço inútil. Para a geração bandas covers, Frank praticamente pertencia ao anonimato, e eu precisava agir rápido para que ele, como tantos outros artistas locais, não se perdesse na triste espiral do silêncio.



(Mais em Caderno Dois #2)


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Uma história de amor e água

Era uma vez um hidrante. Sim, esse mesmo, marcador de água que serve de auxílio aos bombeiros  para ajudar no combate a incêndios. Ligado a uma fonte, ele possui uma ou mais bocas onde se encaixam as mangueiras e uma válvula que funciona como torneira para controlar a saída de água. Até aí, tudo ok. Pura e simples curiosidade.

Nessa história, entretanto, existe também um fotógrafo. De nome Maurício e sobrenome Pokemon, nosso desbravador de cotidianos começou a perceber naquele curioso objeto vermelho que toma o calçamento das ruas, algo até então ignorado. Quase nada funcional, o hidrante está sempre por ali, parado, como se observasse silenciosamente a tudo e a todos, testemunhando cenas e episódios curiosos ou irrelevantes - até que algo ou o mundo pegue fogo. Batata! Estava ali, naquela ligeira preocupação, um pequeno símbolo despercebido da urbanização.


Começou então a vigília e o mapeamento de todos os pequenos cidadãos da comunidade hidrante teresinense. Loucura? Tanto faz. Lá estava Maurício Pokemon, 8 horas da manhã ou 3 da madrugada clicando os atos e cenários mais inusitados, como o assento improvisado do tiozinho, o choro inconsolável do anão, e aquele rápido bate-papo com um velho amigo pra matar o tempo que parece nunca passar na cidade que observam se movimentar.

Até aquela fatídica noite em que, ao voltar da faculdade, nosso jovem fotógrafo se depara com uma cena que parecia sair das telas e dos desenhos animados. Um carro do corpo de bombeiro finalmente se dava por vencido e recorria a ajuda do pequeno e solícito hidrante que, não contendo tamanha emoção e entusiasmo, alagava tudo ao redor. Desprevenido, Maurício acelera e corre em busca de flashes e lentes especiais para registrar o momento. Ao retornar ao local, tristeza e frustração: seja lá onde fosse o incêndio, o fogo não podia esperar. E daquele dia em diante, Maurício entendeu como era triste e vazio o homem sem uma câmera.

Mas o grande momento estava por vir. Passada a ânsia e euforia dos primeiros registros e tendo quase todos os hidrantes da cidade catalogados, apenas a última - e nem por isso menos importante - foto ainda estava por fazer. E como uma mensagem ou aviso divino, cairam do céu - ou do inferno das mentes ignorantes - as queimadas. Zaz, lá estava a cena que faltava para esse conto ficar feliz.

Atingido o objetivo, só uma questão ainda pairava na mente conturbada do nosso guerreiro. De onde vinha a curiosa intimidade com os elementos fotografados? Por que estranhamente eles pareciam se comunicar com ele? Pertubado e prestes a procurar auxílio médico ou conselhos de amigos em mesa de bar, Maurício conseguiu sozinho a resposta para todas as dúvidas e indagações em um antigo álbum de família.


Revirando os baús e arquivos ele encontrou registros surpreendentes de sua infância e adolescência. Lá estavam elas, quase amareladas pelo tempo, eternizando dois importantes momentos de sua vida. Cabeludo e de boné, ele aparece em 2008,  participando de um campeonato de skate e já discretamente prozendo com o vermelhinho. Na segunda imagem, aos 5 anos e vestindo amarelo, outra vez ao lado do novo amigo. Enquanto toda a cidade fazia fila para tocar na taça conquistada pelo país do futebol, o pequeno Maurício, serelepe e sorridente, abarcava o hidrante.

Reencontros, acertos e águas do passado. Pois não, uma linda e emocionante história .

Por: Luana Sena
Fotos: Arquivo Pessoal e Maurício Pokemon

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Avohaima simpatia


No telefone a voz era de pouca empolgação. "Mas à noite é tão ruim pra fazer foto...", alegava o músico. Com um pouco mais de insistência e reforçando a voz e o olhar de pidona (que embora ele não pudesse ver, trouxe resultado), ele topou. E lá estávamos nós, mais de 23h da noite, ainda na casa/estúdio do Roraima.

Mais de 20 anos de carreira, arrisco dizer que não há ninguém neste estado que não conheça ou tenha ouvido falar de Roraima. Quatro álbuns lançados - e um novinho, no forno, que nos mostrou em exclusividade - alguns solos outros em parcerias, o cantor e compositor completamente autodidata se destaca por ser agregador e está sempre procurando estilos e variações que o permitam está em constante mudança, sem abrir mão, é claro, de seu talento peculiar. É uma maneira de se renovar, diz.

Um dos seus últimos projetos, a Teregroovie, surgiu para resgatar o samba-rock em Teresina. Funcionou, e após um longo período subindo ao palco com 12 pessoas, o cantor decidiu resumir e sintetizar tudo: surgiu a ideia do TRIO, que na verdade, sempre existiu, por ser mais viável e prático tocar com pouca gente. Mais pessoas seriam incorporadas a formação, se durante os ensaios não tivesse sido percebido que as meninas davam conta do recado: Karolaine e Alê Pinheiro, baixista e percussionistas que acompanham Roraima nessa empreitada, somam beleza e talento ao novo show. E o fato de serem mulheres e lindas, Roraima jura: é mera coincidência.

Sem rótulos, sem cansar: este é o avohaima, que ninguém acredita está chegando ao meio século de existência assim, abrindo a porta de casa na noite de uma segunda-feira para receber dois jovens e incovenientes repórteres que desejam abraçar o mundo: em quase 4 horas de conversas, risos, e mais risos do que qualquer outra coisa, colhemos material para revista, jornal, livro e até uma biografia completa sobre o cantor com nome de estado. Em 15 minutos de papo, Roraima parecia da turma e virou nosso queridinho pela sintonia com que fluiu nossa entrevista.

Saímos do RR estúdio contentes e animados para seguir em frente. Sexta-feira já está marcado na agenda: Roraima Trio, no Bossa Nova. Vamos ver de perto essa energia no palco e quem sabe conversar um pouco mais sobre sua música e carreira. Muito embora, na verdade, a contribuição de Roraima para nossa revista passe ao largo de tudo isso.

Por: Luana Sena
Foto: Maurício Pokemon

domingo, 26 de setembro de 2010

Rota da diversão - 1ª saída

Já era pouco mais que uma hora da manhã de domingo, e o calor do sábado ainda pulsava intensamente na noite de Teresina. Não por obra do acaso fomos parar ali, em um dos pontos mais movimentados do bairro Dirceu II, zona sudeste da cidade. Depois de uma entrevista furada e uma cerveja mais pobres, a saída era não dar a volta na cidade por perdida e se arriscar na empreitada noturna.

Em busca de traçar a rota da diversão naquele bairro, estacionamos, eu e o repórter fotográfico Maurício Pokemon, em frente a uma casa de show que, naquela noite parecia mais agitada que o comum. Saberia eu depois, que ali se apresentava uma das revelações atuais do tecnobrega. Descemos do carro e traçamos um plano, que se resumia em correr ao perceber qualquer movimentação suspeita. Não era preconceito, nem precaução. O clima estava estranho, o ambiente não parecia acolhedor, e as coisas já não haviam começado bem.

A ideia de abordar pessoas para saber quando e como se divertem, a princípio pareceu simples, sendo inclusive motivo de ansiedade e empolgação em nossas reuniões de pauta. Mas naquele sábado, entretanto, a empolgação nada me dominava, e a minha vontade era voltar pra casa e adiar mais uma vez as entrevistas. Pouco mais de 10 passos à frente de onde estacionamos, abordamos as primeiras personagens. Eram duas amigas, que tomavam caipirinha e conversavam em uma esquina apenas observando a movimentação. Carros no meio da rua, bicicletas, e muitas, muitas motos. O som dentro da casa da show não convencia, e a maioria preferia mesmo era ficar por ali. 

Quem à primeira vista me pareceu séria e rabugenta, aos poucos foi se soltando, revelando traços da personalidade, falando da rotina e explicando gostos e preferências. Nem para as fotos botou empecilho: a personagem estava à vontade, o fotógrafo sorria bem posicionado, e eu que em pouco mais de 5 minutos havia ganho a confiança de uma completa desconhecida, estava totalmente envolvida na entrevista. As coisas estavam funcionando.

Foi então que, em um gesto completamente inesperado e covarde, um estranho se aproximou e agrediu Maurício Pokemon no rosto. Sobressaltados, todos reagiram a sua maneira: a personagem gritou, Maurício enraiveceu-se e eu chorei. Pronto, não é preciso mais que alguns segundos para se ter uma boa história.

No nervosismo comum a quem se sente hostilizado em um ambiente que, teoricamente deveria ser descontraído e animado - me desculpem balanço zona sul, mas por aqui a gente se diverte de outra forma - decidimos vir embora. Já tínhamos motivos suficientes para encerrar a noite. E muito mais para continuar essa reportagem.

Por Luana Sena
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