quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Uma história de amor e água

Era uma vez um hidrante. Sim, esse mesmo, marcador de água que serve de auxílio aos bombeiros  para ajudar no combate a incêndios. Ligado a uma fonte, ele possui uma ou mais bocas onde se encaixam as mangueiras e uma válvula que funciona como torneira para controlar a saída de água. Até aí, tudo ok. Pura e simples curiosidade.

Nessa história, entretanto, existe também um fotógrafo. De nome Maurício e sobrenome Pokemon, nosso desbravador de cotidianos começou a perceber naquele curioso objeto vermelho que toma o calçamento das ruas, algo até então ignorado. Quase nada funcional, o hidrante está sempre por ali, parado, como se observasse silenciosamente a tudo e a todos, testemunhando cenas e episódios curiosos ou irrelevantes - até que algo ou o mundo pegue fogo. Batata! Estava ali, naquela ligeira preocupação, um pequeno símbolo despercebido da urbanização.


Começou então a vigília e o mapeamento de todos os pequenos cidadãos da comunidade hidrante teresinense. Loucura? Tanto faz. Lá estava Maurício Pokemon, 8 horas da manhã ou 3 da madrugada clicando os atos e cenários mais inusitados, como o assento improvisado do tiozinho, o choro inconsolável do anão, e aquele rápido bate-papo com um velho amigo pra matar o tempo que parece nunca passar na cidade que observam se movimentar.

Até aquela fatídica noite em que, ao voltar da faculdade, nosso jovem fotógrafo se depara com uma cena que parecia sair das telas e dos desenhos animados. Um carro do corpo de bombeiro finalmente se dava por vencido e recorria a ajuda do pequeno e solícito hidrante que, não contendo tamanha emoção e entusiasmo, alagava tudo ao redor. Desprevenido, Maurício acelera e corre em busca de flashes e lentes especiais para registrar o momento. Ao retornar ao local, tristeza e frustração: seja lá onde fosse o incêndio, o fogo não podia esperar. E daquele dia em diante, Maurício entendeu como era triste e vazio o homem sem uma câmera.

Mas o grande momento estava por vir. Passada a ânsia e euforia dos primeiros registros e tendo quase todos os hidrantes da cidade catalogados, apenas a última - e nem por isso menos importante - foto ainda estava por fazer. E como uma mensagem ou aviso divino, cairam do céu - ou do inferno das mentes ignorantes - as queimadas. Zaz, lá estava a cena que faltava para esse conto ficar feliz.

Atingido o objetivo, só uma questão ainda pairava na mente conturbada do nosso guerreiro. De onde vinha a curiosa intimidade com os elementos fotografados? Por que estranhamente eles pareciam se comunicar com ele? Pertubado e prestes a procurar auxílio médico ou conselhos de amigos em mesa de bar, Maurício conseguiu sozinho a resposta para todas as dúvidas e indagações em um antigo álbum de família.


Revirando os baús e arquivos ele encontrou registros surpreendentes de sua infância e adolescência. Lá estavam elas, quase amareladas pelo tempo, eternizando dois importantes momentos de sua vida. Cabeludo e de boné, ele aparece em 2008,  participando de um campeonato de skate e já discretamente prozendo com o vermelhinho. Na segunda imagem, aos 5 anos e vestindo amarelo, outra vez ao lado do novo amigo. Enquanto toda a cidade fazia fila para tocar na taça conquistada pelo país do futebol, o pequeno Maurício, serelepe e sorridente, abarcava o hidrante.

Reencontros, acertos e águas do passado. Pois não, uma linda e emocionante história .

Por: Luana Sena
Fotos: Arquivo Pessoal e Maurício Pokemon

5 comentários:

  1. Texto bacana. A foto do Pokemon muito ta show. Parabéns!

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  2. comentário a parte fora a relação de amor Maurício/Hidrantes: alguém mais viu aquela cara de assustado (que me parece ser da Igreja São Benedito) lá na 1º foto? Alguém?...

    APS

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  3. Juro que tento comentar desde quinta, mas o firefox tá jogando baixo comigo.Olha, eu achei o antes e depois mágico.

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