terça-feira, 22 de março de 2011

Nada será como antes, amanhã

1972, Minas Gerais. Um grupo de amigos, uma esquina e um violão. Lô Borges tinha 19 anos, se preparava para o vestibular e encontrava os amigos para uma rodada de risos, pinga, músicas e poesia. E foi assim, em meio a uma 'brincadeira', que ele e Milton Nascimento deram vida a um disco batizado de Clube da Esquina - eles, talvez, nem imaginassem ali estar entrando para a história musical de toda uma geração.

Mas não ficou por aí. Os músicos e suas vidas registradas em um disco de vinil não foi nada passageiro. O espírito de uma época, de um bairro, uma esquina, os encontros dos amigos, os sútis protestos à censura, e a pacata vida na capital com ar de campo sintetizados em poesias traduzidas em música deram força e potência para que o grito ecoasse. Junte a isso as inovações harmônicas e rítimicas para a época - pergunte a qualquer bom entendedor de música - hoje mais corriqueiras e frequentes mas que, no entanto, nem todo mundo que se diz 'músico' consegue utilizar com maestria.

O álbum Clube da Esquina nº 1 foi um divisor de águas na música brasileira. 40 anos depois, os músicos ainda colecionam gratificações e o orgulho em ver a obra na lista dos melhores discos brasileiros de todos os tempos e citado em livros como o "1001 discos para ouvir antes de morrer".

Conheci Lô Borges ontem, antes da sua apresentação no Artes de Março. Shopping lotado, pessoas com o LP na mão para conseguir um autógrafo dele - um simpático senhor com juventude pulando dos olhos azuis. Não resisti a perguntar o que ele, integrante de um movimento que influenciou - e continua influenciando - bandas e músicos de todos os cantos, achava dos fenômenos musicais da atualidade. Pareceu uma indagação em busca de manchete em site de fofoca, quando na verdade, para mim, era apenas uma verdadeira preocupação pessoal. Sou tão feliz por ter registros de movimentos como a Tropicália, a Jovem Guarda, a Bossa Nova e o Clube da Esquina no mp3 pra ouvir e redescobri a cada dia, que penso no futuro musical dos meus filhos. Isso mesmo. O que as gerações futuras irão ouvir e contemplar, meu deus? Luan Santana e Restart perpetuarão? Temo.


Lô Borges e a vontade de mudar o mundo

Sabem o que ele respondeu?

"Eu acho que a qualidade da música é que segurou nosso movimento por esses 40 anos. A gente cantava nossas verdades, não era música pra fazer sucesso nem fazer gracinha. A gente fazia música porque acreditava que podia mudar o mundo. Não o mundo inteiro, mas o nosso mundo. (...) Eu sei que acontecem milhões de fenômenos loucos por aí, mas nem tenho opinião a dar. Esses fenômenos sempre aconteceram. Acho que faz parte, o povão gosta disso. Não posso dizer nem que é bom ou ruim – ouvi dizer que não é bom não (risos) – mas eu não posso dar minha opinião sobre uma coisa que eu não conheço".

Ok, Salomão, entendemos o recado. Não se fazem mais esquinas como antigamente.

Por Luana Sena
Foto: Maurício Pokemon

Um comentário:

  1. A Caderno 2 é a minha Trip, minha Piauí, minha Mad. Não deve e nem fica atrás. Poks e Lu, me amarro no serviço que vocês fazem para nossos coraçõezinhos vazios de cultura de qualidade. Eu me emociono mesmo e não vou esconder. rs

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